45 anos de ”Desire”: Um dos discos mais despojados e fantásticos de Bob Dylan.

Com uma carreira de quase 60 anos, o nosso querido Zimmerman dispõe de pelo menos 10 trabalhos obrigatórios em uma coleção de qualquer fã de música. Talvez o maior compositor da história da música pop, passeou por diversos estilos e linhas sonoras. Hoje um disco MUITO aclamado de sua carreira está completando 45 anos, estou falando de ”Desire”!

Eu acho interessante analisar o contexto histórico da gravação desse disco. Na época, Dylan havia lançado o grande ”Blood On The Tracks” em 1975, um disco completamente confessional e até sombrio. E no ano seguinte, Dylan percebeu uma mudança no cenário musical da época, ele notou que o mercado musical estava meio super produzido demais, ou não tão verdadeiro como era na época que ele começou sua carreira.

Esse sentimento despertou uma ideia na cabeça dele, ele resolveu ”mostrar” como que é que as coisas deveriam ser feitas, ele reuniu um excelente time de músicos, pegou um micro ônibus, sentou no banco do motorista e partiu em turnê guiando a banda meio sem um rumo específico, parando em casas de shows menos óbvias e menores, fazendo apresentações bem enérgicas e diferentes, uma verdadeira festa do Folk Rock, resultando até em rostos pintados no palco. Para nossa alegria, essa turnê foi gravada em excelente qualidade de vídeo e áudio, é possível ver um documentário lançado há não muito tempo sobre os bastidores dela, chamado ”Rolling Thunder Revue, a Bob Dylan Story”, onde nós fizemos uma resenha aqui no Entre Acordes.

Musicalmente, o disco no geral, carrega as mudanças sonoras que Dylan já havia adotado anteriormente, porém alguns elementos foram acrescentados como violino, sanfona e instrumentos de percussão pouco convencionais nos discos dele. A sonoridade alterna bastante desde euforia até melancolia, mas eu definiria o disco como um desabafo libertador. O tempo das faixas também sofreram uma alteração, a maioria das músicas são bem longas chegando até mais de 11 minutos, coisa que ao meu ver nesse disco, não foi um problema.

Falando um pouco das faixas, vale destacar logo a abertura, ”Hurricane”, uma verdadeira paulada nos nossos ouvidos, ela possui uma pegada meio ao vivo no estúdio que me agrada muito e nos mostra um Dylan bem diferente (emocionalmente) desde seu último disco, um início eufórico e bem avassalador, com mais de 8 minutos de duração. ”One More Cup of Coffee”, também é um grande ponto alto do disco, é uma das mais curtas, também é bem complexa, a letra fala sobre amor não correspondido, ela transmite uma vibe de desesperança bem clara. ”Oh, Sister”, é bem melancólica e serve de gangorra para a sonoridade dessa transição de lados do disco, também é uma música que fala sobre o amor. ”Joey”, sem dúvida é a minha favorita do disco e uma das minhas favoritas de toda carreira do Dylan, uma música muito grandiosa, tanto pela musicalidade quanto pelo tempo de duração, com seus 11 minutos, a balada pode até ser taxada como monótona, mas pra mim essa vibe meio repetitiva não estraga em nada a composição, é linda, macia e aconchegante!

Hoje em dia, ”Desire” é um considerado um verdadeiro clássico da carreira do Dylan, vendeu muito e sempre quando eu converso com grandes fãs do Bob, a grande maioria o coloca entre os 5 maiores e melhores discos de sua carreira, isso quando não está em primeiro lugar. Acredito que foi um disco muito importante para a vida de Bob Dylan, foi um momento importante para extravasar um pouco os problemas pessoais do ano anterior e mostrar ao mundo a maneira como a música deveria ser tratada! Fica a nossa homenagem e recomendação, esse verdadeiro clássico!

Autor: Neto Rocha

25 anos, e grande entusiasta de uma das coisas mais poderosas inventadas pelo homem, a música.

3 pensamentos

  1. O disco que foi o primeiro passo para eu começar a gostar de Bob Dylan há uns anos atrás (mas não a ponto de tornar-me um grande fã dele) completou no dia 5 de janeiro de 2021, terça-feira, 45 anos de seu lançamento. Só pelo conteúdo íntegro de Desire que o cara merecia (ao menos, na minha concepção) ter ganhando o tal Prêmio Nobel de Literatura em 2016, ou seja, 40 anos depois que ele lançou esta pérola.

    Algumas das minhas faixas preferidas do trovador podem ser encontradas aqui: a abertura com “Hurricane” (até hoje impressionante), a épica e triste “Joey” (fora de série), a divertida “Black Diamond Bay” (minha favorita do LP) e a magistral “Romance in Durango”, que ficou famosa aqui no Brasil por sua versão em português chamada “Romance no Deserto” gravada primeiramente por Raimundo Fagner e, mais tarde, por Amado Batista (sim, ele mesmo, podem pesquisar que é verdade!).

    Enfim, Desire é, de fato, uma das grandes e inúmeras obras-primas concebidas pelo Sr. Dylan, e um trabalho essencial não só para os fãs de boa música, mas especialmente para todos os que desejam conhecer e entender um pouco sobre a história, a obra, o legado e a importante relevância que o lendário músico e poeta americano até hoje exerce nas gerações futuras. Longa vida ao mestre Dylan e parabéns ao Desire!

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