Dificilmente uma banda começa uma carreira com sua sonoridade e identidade completamente definida, alguns nomes como The Jimi Hendrix Experience, The Doors, Guns N’ Roses, Ramones e Led Zeppelin conseguiram iniciar sua discografia com praticamente tudo devidamente ajustado.
Outras demoram um pouco para encontrar seu caminho deifinitivo, e os The Rolling Stones se encaixam perfeitamente nesse segundo exemplo, apesar do grande ”Beggars Banquet” de 1968 já ser um disco coeso e com a cara dos Stones, foi só no ano seguinte com o lançamento de ”Let It Bleed” (seu oitavo disco) que a banda encontrou seu som definitivo, pelo qual seguem até os dias de hoje. E esse clássico completa hoje exatos 50 anos de seu lançamento.
Os Rolling Stones tiveram um pouco de dificuldade em se destacar no mesmo nível de seus contemporâneos ingleses entre a primeira e o início da segunda metade da década de 60. Além do problema em encontrar um som autoral, a banda lidava com o declínio emocional e físico de Brian Jones, o dono da banda naquele começo. Aqui Brian já não era mais tão fundamental nem presente nas gravações, ele participa apenas em duas faixas, “Midnight Rambler” e “I Got The Silver”.
Com esse quadro, a banda se viu obrigada a tomar uma atitude, foi então que Brian Jones foi demitido durante as gravações, e pouco tempo depois seria encontrado morto. Em seu lugar, Mick Taylor viria dos Bluesbreakers. E foi nessa mudança na guitarra que a banda alcançaria um outro nível de evolução e entraria de vez no Rock ‘n’ Roll clássico que dominaria a década de 70.
O nome do álbum parece até um contraponto ou trocadilho dos Beatles que lançariam “Let It Be” no ano seguinte, apesar do lançamento posterior, o disco dos Beatles foi gravado antes de “Let It Bleed”, e como a relação das duas bandas nos bastidores era bastante próxima, eu acredito que isso possa ter sido pensado.
O disco é recheado de músicas que se tornaram clássicos que se fixaram no setlist da banda até o presente. Petardos como a abertura “Gimme Shelter”, “Midnight Rambler” e o encerramento épico com “You Can’t Always Get What You Want” são no mínimo, clássicos da história do rock. E ao mesmo tempo, faixas mais acústicas e sensíveis como “Love In Vain”, “Country Honk” e “You Got The Silver” trazem uma certa serenidade e evidenciam a inspiração dos Stones á música americana.
Um triste, porém importante episódio que precisa ser relatado é a apresentação da banda em Altamont, apenas um dia após o lançamento do álbum. Esse dia ficou marcado como um dos mais violentos eventos da música, a banda teve a infelicidade de encarregar os Hells Angels para fazer a segurança do show. As coisas acabaram saindo do controle e uma pessoa acabou morta, e o título “Let It Bleed” parecia fazer jus ao clima sombrio que cercava a banda naquele período.
“Let It Bleed” foi um marco na carreira dos Stones, hoje é lembrado por muitas pessoas como o início da melhor fase dentro da discografia da banda. A entrada de Mick Taylor mudou drasticamente o som dos Stones, e definitivamente a banda se viu pronta emendar uma sequência avassaladora de discos emblemáticos cravando seu lugar como uma das melhores e maiores bandas de todos os tempos.