O caso do Cartola é muito interessante. Um grande compositor que era conhecido e respeitado na cena do Samba carioca e que ficou por décadas “esquecido” sem desenvolver uma carreira sólida por questões financeiras, sociais e mercadológicas, acabou redescoberto pelo jornalista Sérgio Porto no início da década de 70 e iniciou uma carreia solo com mais de 60 anos.
E foi em 1976, aos 67 anos que ele lançou o seu segundo disco o autointitulado de 1976, uma jóia rara da música brasileira. Ele vinha de seu ótimo trabalho de estreia de dois anos antes, e para este disco, ele mantém sua íntima poesia sobre temas do cotidiano, amor e desilusão que é acompanhado de um acompanhamento acústico introspectivo e minimalista que da um charme a mais para as interpretações de Cartola.
A abertura com, “O Mundo É Um Moinho”, é das composições mais viscerais sobre como a vida é um verdadeiro moinho de sonhos, sentimentos e planos, a barra pesa muito. “Minha” é carregada por um instrumental mais envolvente e com flertes para a dança, mas que em sua letra é carregada de desilusão. E o que falar de “Preciso Me Encontrar”?, que talvez seja uma das maiores composições da história da música brasileira, sem mais considerações.
É uma pena que Cartola não conseguiu começar pra valer os registros oficiais de sua carreira solo mais cedo. Provavelmente seu nome seria inquestionável e teria um fim de vida mais estruturado, mas pelo menos ele conseguiu deixar seu nome marcado na história do Samba e nos dias de hoje possui algum reconhecimento pela crítica e por um público mais atento. Se depender de mim, nomes como de Cartola jamais serão esquecidos.

