45 Anos de “Tonight’s The Night” – A Dor Dilacerante de Neil Young

Após a turnê do excelente ao vivo (mas “rejeitado” por seu criador) “Time Fades Away” (1973), Neil Young voltou aos estúdios para gravar seu próximo álbum. “On The Beach” (1974) já foi comentado por aqui, mas, na verdade, “Tonight’s The Night” foi o primeiro a ser gravado e tocado ao vivo para plateias um tanto confusas (como retratado no incrível “Roxy: Tonight’s The Night Live”) naquele fatídico ano de 1973. Young sofria com a morte por overdose de seu amigo e roadie Bruce Berry, além de Danny Whitten, guitarrista da Crazy Horse alguns meses antes, e suas canções captam a crueza do luto como nenhum outro. O álbum acabou saindo apenas em 1975, e hoje completa incríveis 45 anos!

O álbum é absolutamente cru. Em um momento de grande introspecção, Young exprimia toda aquela dor em canções sofridas, distorcidas, com arranjos e performances propositalmente mais “soltas”, sem aparar as arestas de sua nova banda “The Santa Monica Flyers”. E como sói acontecer com um gênio desse quilate, isso veio para o bem, e uma audição por vezes incômoda, cambaleante, é uma experiência única.

Ele evoca diretamente seus amigos falecidos. Seja em versos como “Bill Berry was a working man” na incrível faixa-título ou na porrada do dueto com o guitarrista Danny Whitten em “Come On Baby Let’s Go Downtown”, gravada ao vivo no Fillmore East em 1970.

A imensa dor de Young é acompanhada de peças viscerais, como a distorção hipnótica de “World On A String” ou a Blueseira “Speakin’ Out”, mas, mesmo nesses momentos, a beleza um tanto depressiva das melodias se destaca. Sua inseparável gaita soa como um lamento na belíssima balada “Borrowed Tune” e em “Mellow My Mind”, enquanto “Albuquerque” e “Tired Eyes” encontram na comunhão de vozes uma força inimaginável, ainda mais enérgica na reprise da faixa-título, que fecha o disco como um ciclo.

Luto, fama, desesperança, “Tonight’s The Night” está longe de apresentar soluções para os problemas de Young. Na verdade, ele os expõe e transforma no mais puro e por vezes cruel estado da arte. Talvez seja por isso que, após tantas décadas, ele ainda é um dos trabalhos mais fascinantes do nosso inoxidável trovador canadense!

Autor: Caio Braguin

16 anos, baterista, aficionado por música (e todas as formas de arte) desde o berço. Música é minha vida!

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