A dor profunda e dilacerante de Bob Dylan – Os 45 anos do sensacional “Blood On The Tracks”

Era uma madrugada fria. Me encontrava sem sono, e chovia forte lá fora. Era um período onde eu estava totalmente disposto a mergulhar profundamente na extensa obra de um gênio trovador do Folk, da qual todos se referiam como uma espécie de divindade musical, e estava mais do que convencido a seguir em frente com esse “desafio”, e constatar pessoalmente os motivos de tamanha devoção a este cantor e compositor chamado Bob Dylan.

Em forma cronológica, senti como se estivesse entrando em universo tão rico e vasto, que a experiência de ouvir sua obra foi me encantando mais e mais ao decorrer de cada disco. Porém, quando chegou no exato ano de 1975, me deparei com um álbum batizado de “Blood On The Tracks”, que simplesmente me deixou embasbacado com tamanha beleza musical e poética, e que até hoje é um dos meus favoritos (top 5 sem dúvidas) de um gigantesco e riquíssimo legado, e que está completando 45 anos de lançamento hoje.

Logo após a audição, fui logo correr atrás de saber se havia algum tipo de conceito impregnado naquela peça musical que tanto mexeu com minhas estruturas. Foi sem dúvidas amor a primeira ouvida. Logo concluí que o disco é uma obra prima que resultou de toda dor dilacerante que Dylan sentiu quando seu casamento com sua primeira esposa, Sara, terminou, e também, quando a parceria com a lendária The Band (que era o seu grupo de apoio há vários anos) simplesmente se desmantelou.

Com uma pegada predominantemente tranquila e acústica, o som do álbum bebe das fontes do Blues, do Folk, e do Country com uma beleza fascinante, e apresenta algumas das canções mais brilhantes de uma grande carreira em que não faltam lampejos geniais. Os grandes destaques ficam por conta da abertura com a maravilhosa “Tangled Up in Blue”, (o título já é fantástico) com seu clima de campo suave mas com uma letra incrivelmente amarga. Dylan no alto de sua sabedoria, ainda conseguiu traduzir de forma brilhante como a fragilidade do amor pode levar o homem ao fundo do poço com uma série de canções não menos que sensacionais como “Simple Twist of Fate”, “You’re a Big Girl Now” e “You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go”.

Ao longo dessa viagem sonora, somos convidados a ouvir histórias emocionantes com distintos sentimentos e variadas sensações. Na espetacular “Idiot Wind”, Dylan reage de forma mais agressiva com a causadora de sua desilusão com uma mágoa explícita, para logo mais, o próprio Dylan se recompor no estupendo Blues de “Meet Me in the Morning”. Em “Lily, Rosemary and the Jack of Hearts”, ele desconcerta nossas mentes ao utilizar uma alegre levada Country de quase 9 minutos de duração como “pano de fundo” para uma letra epicamente dolorida. No final com “Buckets of Rain”, Dylan reserva um espaço nos sulcos do LP para mandar uma mensagem direta a Sara, dizendo que ele sempre estaria disposto a receber sua amada de volta.

“Blood On The Tracks” é um livro musical e confessional dotado de uma beleza sem igual. É a clara demonstração de como um disco pode ser sim um retrato dolorido de um desabafo emocional de sentimentos tão ambíguos como a solidão, esperança, amargura, e que juntos, resultaram em um coleção de canções altamente sublimes!

Autor: Felipe Silva

28 anos, paulista, corinthiano, e o mais importante, consumidor compulsivo de música! Rock, Soul, Funk, Blues, Jazz, MPB, que a música boa seja exaltada independente de gênero. God bless you all.

Nenhum pensamento

  1. Sempre fui muito resistente em se tratando da obra de Bob Dylan. Nunca tirei um tempo para ao menos uma vez ouvir qualquer um de seus discos e prestar mais atenção em suas letras, até que um dia, resolvi mudar de idéia e dar uma chance para mim mesmo em relação a isso. Comecei pelo excelente álbum Desire (1976) por causa da canção chamada “Hurricane”, em seguida fui conhecendo outros belos trabalhos de Dylan feitos em décadas diferentes. Porém, Blood on the Tracks (álbum homenageado dessa postagem) foi o álbum dele que mais me emocionou pela sua história na qual foi baseado: o divórcio de Bob com sua então esposa Sara foi como uma facada no coração do artista, e ele resolveu pôr para fora toda a sua tristeza e raiva neste álbum primoroso que se tornou um clássico da década de 1970. Esse disco é uma daquelas provas de que Bob Dylan não ganhou em 2016 o “Prêmio Nobel de Literatura” á toa.

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