Uma Revolução Ritmada – 60 Anos de “Time Out”

Em 1958, Dave Brubeck embarcou na turnê “Jazz Ambassadors”, uma iniciativa do Departamento de Estado Americano para levar, em teoria, sua música para os países da chamada Eurásia (ainda sob o poder da cortina de ferro). Certo dia, quando estava na Turquia, ele ouve alguns músicos de rua tocando o tradicional Zeybek, e intrigado, pergunta de onde eles haviam tirado aquele ritmo. Logo, eles lhe respondem:

“Esse ritmo é para nós o que o Blues é para você”.

Esse fascínio pelas inúmeras possibilidades rítmicas incomuns ao ocidente inspirou Brubeck a compor um álbum lotado dessas inusitadas fórmulas de compasso. E, há exatos 60 anos, era lançado o que se tornaria um dos maiores discos da história do Jazz, devidamente nomeado de “Time Out”!

O 9/8 do Zeybek já nos dá as boas-vindas na montanha-russa rítmica “Blue Rondo à la Turk”, criando uma tensão com o insistente e hipnótico piano de Brubeck, que é aliviada na sessão de improvisações, voltando ao mais cool dos Swings de forma magistral.

“Strange Meadow Lark” tem seu início espaçado, sem um tempo definido, ganhando corpo no aconchegante saxofone de Paul Desmond, num momento de calmaria. Essa que, apesar do início acachapante, toma conta do álbum, com Swings “tortos” e suaves, como “Three To Get Ready” (como o próprio nome sugere, um 3/4), ou a valsa “Kathy’s Waltz”, onde Brubeck esbanja impávida genialidade em sua escolha de notas e melodias perfeitas.

Mas, toda a aura do disco vem muito em função de um tema, a espetacular “Take Five”. Aqui, o quarteto transforma o improvável ritmo de 5/4 em um balanço incrível, muito pela sutileza e engenharia rítmica de Joe Morello, que ainda nos entrega o que provavelmente é o maior solo de bateria da história do Jazz (e está entre as maiores performances da história do instrumento), criando uma pintura, em uma alternância instigante de pratos e tambores. Não é à toa que a música se tornou um Standard, e o single mais vendido da história do estilo.

A derradeira “Pick Up Sticks”, com sua fórmula em 6/4, é uma despedida em grande estilo para esse amálgama de elementos sonoros, que encontra sua explosão na calmaria.

Em “Time Out”, Dave Brubeck abriu caminho para diversas odisseias musicais vindouras, conseguindo um álbum que, apesar de seus ritmos incomuns ao público ocidental, é extremamente acessível, e uma das melhores portas de entrada para quem quer se aventurar no sublime mundo do Jazz!

Autor: Caio Braguin

16 anos, baterista, aficionado por música (e todas as formas de arte) desde o berço. Música é minha vida!

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