Há exatos 40 anos, o último capítulo da esplendorosa fase anos 70 de Caetano Veloso chegava às lojas. Cinema Transcendental conserva o alto nível de seus predecessores, trazendo um material ainda mais diverso. O disco combina canções sintéticas no formato pop e momentos experimentais, intimistas ou mesmo de caráter regional. É o segundo disco de Caetano com o grupo A Outra Banda da Terra, que contava com Vinicius Cantuária, Tomás Improta, Perinho Santana e Arnaldo Brandão.
A qualidade e simplicidade com que Veloso articula poesia, melodia e harmonia em canções como “Oração ao Tempo” e “Menino do Rio” saltam aos olhos (ou será aos ouvidos?) desde a primeira audição. Inclusive, muitos famosos intérpretes brasileiros regravaram essas faixas, tais quais: Maria Bethânia e Djavan gravaram “Oração ao Tempo”, enquanto João Gilberto e Baby Consuelo – belíssima versão- escolheram “Menino do Rio”.
“Vampiro”, de Jorge Mautner e “Elegia”, de Jorge Mautner e Péricles Cavalcanti e Augusto de Campos, respectivamente, também merecem destaque, mostrando uma das principais facetas de Caetano: a facilidade de transpor emoção e sinceridade em interpretações. “Louco Por Você” uma música de mais de 7 minutos, pode soar um tanto quanto pretensiosa, porém a delicadeza da voz de Caetano, o instrumental sublime e as melodias bem construídas fazem com que esse tempo passe voando, fazendo-lhe indagar o porquê de ter acabado ”tão rápido”. No final do disco, predominam canções experimentais e regionais de menor relevância (salvo “Cajuína”), o que não compromete o disco. ”Os meninos dançam, a faixa que fecha o álbum, também é digna de registro.
Os arranjos de Cinema Transcendental aliam elementos acústicos e elétricos. Nas canções mais ”pop”, predominam violão, guitarra, teclado e bateria. Nas canções mais experimentais e/ou regionais, aparece o violão puro e simples, sem efeitos, acompanhado de percussão e, em alguns momentos, de outro instrumento.
Caetano Veloso termina a década de 70 com um ótimo disco. Cinema Transcendental é composto, em suma, por brilhantes canções que permanecem vivas no repertório do compositor e na mente daqueles que, como este que vos escreve, admira a MPB e a enxerga como expressão de arte.
A text by @lukaspiloto7twister