Em 1974, a chamada “Mk III” do Deep Purple estava a todo vapor. Já tendo lançado o clássico absoluto “Burn” em fevereiro do mesmo ano, o grupo ainda não estava satisfeito. A dupla David Coverdale/Glenn Hughes, já consolidada, adicionou ainda mais do irresistível tempero Funky ao som da banda. Tudo culminou em “Stormbringer”, que hoje completa seus 45 anos.

Apesar do bom momento na carreira da banda, Ritchie Blackmore, descontente com o rumo mais Funky da banda, já estava com um pé para fora (já com o Rainbow em mente), e como nunca foi uma pessoa “fácil”, o clima nas gravações não deve ter sido nada amistoso. Logo, ao ser lançado, o disco teve um recepção morna, tanto de crítica quanto dos fãs.
Mas será que essa crítica faz jus ao álbum? Bem, basta ouvir os primeiros segundos da épica faixa-título pra perceber que temos aqui o Deep Purple com força total. Com um Riff espetacular e o órgão costumeiramente explosivo de Jon Lord, é um dos grandes petardos não só da era Coverdale, mas da banda como um todo.
O suingue (do qual Blackmore era “grande fã”) escorre sem dó pelos falantes. A bluesística “Love Don’t Mean A Thing” já escancara essa faceta, destacando-se os agudos incríveis de Hughes (que interagem perfeitamente com a voz profunda de Coverdale). O shuffle pulsante de “Hold On” (como sabe groovar Mr. Ian Paice!) é um Soul de primeira (o coral do refrão não me deixa mentir), exalando uma sensualidade sem igual, assim como na Funkeira pesada de “You Can’t Do It Right”, com o Clavinet quase percussivo de Lord. “The Gypsy” mescla muito bem as duas porções, do peso ao Groove, numa faixa densa, de caráter mais soturno.

As porradas não faltam, é claro. O Hard Rock explode em “Lady Double Dealer”, numa Master Class de Hard Rock ministrada por Ian Paice, ou no Riff cativante de “High Ball Shooter”. E quando o Deep Purple quer fazer Rock ‘N’ Roll, saia da frente!
As baladas, aqui, ficam por conta de grandes canções como “Holy Man”, numa pegada quase Southern Rock, e a fantástica “Soldier Of Fortune”, um canto melancólico, e uma das canções mais lindas da banda.
“Stormbringer” é o fechamento de um ciclo para o Deep Purple, culminando com a saída de Ritchie Blackmore. Aqui, os caminhos para o próximo e derradeiro (subestimado) disco da “Mk III” foram trilhados. A banda, num momento de tempestade, nos brindou com outra, dessa vez sonora, que merece ser revisitada e lembrada como um grande disco!
