Depois do clássico “All Mod Cons”, os “novos Mods” do The Jam entraram num ritmo incessante de turnê. Mas a criatividade, especialmente de Mr. Paul Weller, estava no ápice, e veio com o embrião de um disco conceitual, contando a história de três amigos de infância, que se encontrariam novamente após uma guerra. Essa ideia acabou não se concretizando completamente, mas boa parte dessas canções acabaram formando mais uma obra-prima, chamada “Setting Sons”.

O caminho sonoro aberto pelo disco anterior continua em força máxima, mesclando a energia Punk com a sensibilidade pop de melodias vindas diretamente do Pop/R&B Sessentista. “Girl On The Phone” já se inicia vibrante, com um elemento que é marca registrada do Jam: O baixo de Bruce Foxton. Ele é o motor que conduz as magníficas canções de Weller, tanto as mais diretas como “Private Hell”, ou as infecciosas e pop do quilate de “Saturday’s Kids”.
O conceito dos “Três Pequenos Soldados” não foi completamente esquecido. “Thick As Thieves”, “Wasteland”, “Burning Sky” e especialmente “Little Boy Soldiers” (quase uma mini-suíte, lindíssima, cheia de movimentos) nos dão uma ideia de como seria a obra. São lotadas de crônicas da vida britânica, pessimistas, fazem um panorama que só um gênio como Weller faria de seu meio.

Um dos momentos mais sublimes do álbum está na composição de Foxton “Smithers-Jones”, já lançada como lado b de um single, mas aqui totalmente repaginada, com a inclusão de um maravilhoso naipe de cordas (que muito influenciou uma certa banda Mod brasileira…).
A trovejante “The Eton Rifles”, um hino da “Working Class” britânica, é o momento mais forte do álbum. O cover de um clássico da Motown “Heatwave” (as raízes Mod não mentem, já que o Who havia gravado a canção em seu “A Quick One”), soa um pouco deslocado em meio a tantas canções inspiradíssimas, mas é uma conclusão explosiva para um grande disco.
“Setting Sons” é mais um trabalho que captura o The Jam em seu auge. O trio soa poderoso como nunca, e Weller se prova, novamente, uma das maiores mentes criativas inglesas (que ainda traria muitas obras-primas ao mundo). 40 anos depois, as crônicas desses “três soldados” soam vitais como nunca!
