O mesmo assunto em pletro diferente – O Encontro de Gerações de “Besta Fera”

Depois de um hiato de 20 anos, Jards Macalé retornou com um novo álbum de inéditas. E não é de se esperar que um cara que produziu pérolas como seu auto-intitulado disco de 1972 viesse com algo “comum”. Para isso, se juntou à nata da cena Brasileira atual (Kiko Dinucci, Romulo Fróes, Tim Bernardes, Juçara Marçal, entre outros), veio com sua “lira maldizente” fazer um retrato do Brasil de hoje (ou de sempre?).

O álbum é como uma releitura soturna do Samba. Desde os primeiros acordes de “Vampiro de Copacabana”, a densidade (quase industrial) do som experimental (muita mão de Kiko Dinucci) se confunde com as raízes brasileiras, explicitadas no na autoafirmação da faixa título “Besta Fera”, um samba onde Jards canta, referenciando seu passado, e não se ausentando da urgência de um manifesto nesses tempos.

E, ao cair em “Trevas”, ouvimos uma das canções do ano. Indo do peso do Rock, criando uma tensão fantástica a um “Samba Torto”, e bradando: “Chegamos no limite da água mais funda”. Felizmente, não é o caso do disco, que segue com a linda “Buraco da Consolação”, parceria com Tim Bernardes, que revitaliza as tradições da canção, num de seus momentos mais saudosistas.

A calmaria volta em “Obstáculos” e na cadência de “Meu Amor Meu Cansaço”, duas pérolas melodiosas, atestado da maestria cancioneira de Jards, que volta a discorrer sobre a passagem do tempo em “Tempo e Contratempo”

Juçara Marçal garante um dos momentos mais sublimes em “Peixe”, um lindo dueto, que, evocando Dorival Caymmi (“Vamos chamar o vento…”) , é como uma pintura surrealista em forma de canção. Mas, se o flerte com o Samba era evidente, na parceria com Romulo Fróes “Longo Caminho Do Sol”, ele se joga de vez, em coro, de forma magistral. E, ao fim, reflete introspectivamente sobre seu “Valor”, num autorretrato de cortar o coração, e nos dando a sensação de que sim, estamos diante de uma das grandes obras brasileiras da década.

“Besta Fera” é mais uma extensão da verdadeira essência de um gênio como Jards Macalé. Assim como fez em 72, é inovador, mostrando que está (muito) antenado e inspirado como nunca. O resultado? Um dos trabalhos definitivos de Jards, o eterno Morcego na Porta Principal, escancarando as mazelas dos verdadeiros “Bestas Feras”!

Autor: Caio Braguin

16 anos, baterista, aficionado por música (e todas as formas de arte) desde o berço. Música é minha vida!

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