Se existia um ambiente perfeito para experimentações musicais e loucuras, esse era o King Crimson nos idos dos anos 70. Robert Fripp, Bill Bruford e John Wetton, o núcleo da que seria uma das formações mais célebres da história do Prog, estava no princípio do fim (tanto que o grupo debandaria logo depois), mas bem, isso não é sentido. Inspirados como nunca, lançam seu álbum mais pesado e, como sempre, desafiador. É claro que estamos falando do maravilhoso “Red”, que completa hoje 45 anos.

Esse é um trabalho que destaca ainda mais esse núcleo central, com a saída do violinista David Cross (que aqui participa pouquíssimo). Esse poderio musical absurdo já nos arrebata na estrondosa faixa-título “Red”. Um tema instrumental denso, vezes dissonante, com a bateria extensiva e um baixo estrondoso (e um belíssimo interlúdio de violoncelo). Essa explosão já dita o clima Avant-Garde (como sempre) do álbum, lotado de improvisação.
“Fallen Angel” se inicia de maneira “doce”, mas cresce, com um lick hipnótico de Fripp, até se tornar uma imprevisível amálgama de sons. Após essa viagem, ouvir o poderoso riff de “One More Red Nightmare” é um deleite ainda maior. Aliando peso às já tradicionais “estranhas” estruturas, é um petardo progressivo. Destaque para a bateria do (genial) Bruford, que brilha em todo o álbum, e aqui, num groove espetacular, reconstrói mais uma vez a bateria da Música Progressiva. Os vibrantes saxofones dos velhos conhecidos Mel Collins e Ian McDonald dão um ar ainda mais tenso à faixa.
Se a improvisação já era parte integrante, em “Providence ela se concentra e torna-se todo um conceito. A participação de David Cross no álbum não poderia ser mais instigante e vanguardista. Aliando seu violino aos famigerados “Frippertronics” da guitarra, uma percussão que circula entre os canais de forma encantadora, e um baixo, digamos, federal, é uma peça exemplar de algo como “Free Jazz-Rock”, quase impossível de se rotular.

Mas, tudo culmina em uma das coisas mais sublimes já escritas. “Starless” é, sem dúvidas um dos pontos mais altos da infindável genialidade de Robert Fripp e sua (absurdamente talentosa) trupe. Iniciando-se com o icônico lick de guitarra, com orquestrações, quase uma balada (lindamente cantada por Wetton), mas que, aos poucos, adquire o “Crimson Sound”, em um riff trovejante e “torto” de baixo, e improvisos selvagens, é o canto do cisne dessa formação, e, por um determinado tempo, do grupo.
“Red” é o fim de uma era para o King Crimson. Após anos de uma efervescência criativa absurda, era hora de tirarem uns anos sabáticos. E não poderiam ter feito isso de maneira melhor, com um verdadeiro “Anjo Caído” em sua discografia!
