
Numa época em que as guitarras Grunge e camisas quadriculadas eram a trilha sonora para a angústia, as melodias delicadas e a profunda sensibilidade estética de Jeff Buckley o colocavam num mundo à parte. Saindo da cena vanguardista de Nova York no início dos anos 90, Buckley (Cujo pai era um herói do Folk do final da década de 60) juntamente com sua banda, já tinham gravado seu primeiro disco de estúdio, o maravilhoso “Grace”, que hoje está completando incríveis 25 anos de lançamento.
O disco é uma coleção de 10 canções altamente sublimes que divagam sobre à saudade, à perda e à absoluta incompetência do homem nos momentos difíceis. As letras são melancólicas, mas o álbum escapa de ser excessivamente sentimental graças ao tom otimista dos maravilhosos e emocionantes vocais de Jeff, e aos reconfortantes arranjos musicais. A faixa de abertura, “Mojo Pin”, juntamente com a fantástica faixa título “Grace”, são verdadeiras montanhas russas de emoções que beiram o épico, onde tanto a interpretação vocal de Jeff quanto o instrumental te arrepiam até a alma. “Last Goodbye” começa com uma maravilhosa guitarra slide seguido de uma ótima linha de baixo, e é insuportavelmente triste, sendo acompanhada por cordas capazes de dilacerar o mais duro e frio dos corações. Ao mesmo tempo, “Corpus Christi Carol” é um lindo tema meio erudito que deixa Jeff bem a vontade para demonstrar a incrível flexibilidade de sua voz. Em sua sua versão de “Hallelujah” de Leonard Cohen, Jeff demonstra tanta autoconfiança que ficamos pensando em quem gravou a primeira versão…

Ainda temos “Lover, You Should’ve Come Over”, que merece ser eleita como uma das melhores e mais profundas canções já gravadas e lançadas na história da música, pois o feeling absurdamente profundo que Jeff exala nesta faixa é de fazer até Adolf Hitler cair em prantos. E no momento mais roqueiro do disco, temos a poderosa “Eternal Life”, numa levada bem Rock and Roll cheia de energia, com um trabalho exemplar de guitarras. Enquanto que a faixa final “Dream Brother” é um tema meio dark, de sensibilidade incrível, e que cresce no final sob um fantástico e muito criativo arranjo de guitarras e sublimes harmonias vocais.
Uma ótima ironia presente em “Grace” é o fato de músicas compostas para locais pequenos e com baixa acústica, soam enormes e gloriosas neste disco de estréia impressionantemente maduro. Depois de 25 anos, “Grace” permanece como um maravilhoso e irretocável disco, um grande clássico que arranca até hoje muitos elogios a genialidade musical de Jeff Buckley. Mesmo com o fim trágico da vida de Jeff em 1997, ao ter morrido afogado num rio aos 30 anos, com “Grace”, ele deixou uma obra maravilhosa e um legado musical tragicalmente curto, mas de importância vital, repleto de uma sensibilidade profunda e muito sincera. A afirmação “Música feita com o coração” define mais do que perfeitamente este maravilhoso disco que é “Grace”.
